sexta-feira, julho 15, 2011

Adeus à Raquel, recepcionista

Bom, hoje foi o dia em que me despedi. Quando acabar de escrever este post, bastante maior que os meus últimos certamente, a minha mente vai deambular pelos meus textos antigos sobre o assunto, vou perder-me novamente em memórias para compreender o que se passou, o que cresci e o que mudou em mim.

Hoje demiti-me. Quer dizer, ainda não o fiz, mas já anunciei a minha despedida à Cristina. Eu gosto imenso dela, de facto, é uma coisa muito forte que sinto com ela, uma amizade envolvida em trabalho. Um respeito que nunca conheci em ninguém e uma força de vontade maior do que podia imaginar. Admiram-me estas coisas. Estas capacidades que temos de nos relacionar uns com os outros. Olho para o lado e encontro a Fernanda. Uma amiga também, alguém ético e bem disposto, alguém que também admiro, que também aprendi a gostar. Depois há a Lúcia, a eterna jovem que jamais vou esquecer. Os seus cabelos longos cabelos louros, o carinho e a compaixão que tem, acho que não me lembro de conhecer ninguém assim.

Enfim, é hora de fechar esta porta, é hora de arrumar as gavetas que ficaram desarrumadas nos entretantos da minha vida. É hora de me lançar aos verdadeiros lobos, largar esta prisão e abrir as asas e a mente, para voar mais descansada, mais pacífica e (espero) mais feliz. Tenho pena, porque adoro estas pessoas, adoro este conforto, esta recepção. Adoro receber as pessoas, ajudar o Quim, olhar para a Cristina sempre bem vestida, nos seus altos e baixos. Adoro ser os olhos da agência, ver quem entra e quem sai. Aliás adoro mesmo esta lufa-lufa da publicidade, enfiar os headphones e olhar para as pessoas a viver, a passar, em mute. Adoro este à vontade com as pessoas, esta mobilidade e a simpatia de todos. Adoro ser a mais nova no meio destas pessoas, a mais irreverente e doida. A que mais se maquilha e ao mesmo tempo, a que dois aniversários aqui passou. Mas há algo que adoro mais, o meu futuro, qualquer que seja. Adoro ambicionar algo mais. Vejo estas caras conhecidas a entrar e a sair, sorriem-me e cumprimentam-me como se fosse um deles, uma amiga de longa data. Também há quem não note a minha presença, o meu visual e as minhas ambições. Gosto de quando o Pedro Ferreira se senta ao meu lado e vê as minhas fotografias, opinando na sua visão de director criativo. Gosto de quando me perguntam com os olhos esperançados se têm encomendas e adoro quando precisam da minha ajuda para alguma coisa (seja ela enviar e-mails ou embrulhar algum trabalho, importante para a agência). Gosto de estar relacionada com este mundo, com estas pessoas. Gosto de quando o Quim me dá aquele abraço que preciso ou de quando a Lúcia me deixa encostar-me a ela e aos seus cabelos loiros.

Muitas caras  novas passaram por mim ultimamente. Pessoas novas, estagiários, trabalhadores e clientes. Vi esta agência crescer e decrescer. Vi os altos e baixo da publicidade. Vi a crise abater-se, a perda de clientes e a felicidade de ganhar outros. Tratei da correspondência, tratei de tudo o que podia, enquanto aqui estive. Vi as pessoas a mudarem, mas eu mantive-me a mesma, igual a sempre, igual à Raquel, mas mais velha, mais ambiciosa, mais direccionada. Simplesmente não direccionada para aqui.

Com a ajuda de quem me acompanhou nesta jornada consegui encontrar o meu trilho, invejar quem me perdeu e ambicionar um novo caminho, uma nova vida. Sorrir todos os dias com a música nos ouvidos, confinar segredos obscuros a pessoas importantes e agradecer a quem me ajudou a crescer parece ser a última coisa que me falta. Será que devia escrever uma cartinha a cada um deles? Será que me devia despedir, agradecer o que fizeram por mim?

Por aqui, onde ninguém lê, despeço-me desta Raquel, a recepcionista. Despeço-me de quem ajudei a fazer amigos, daqueles que uni e fiz conhecer. Daqueles que me fizeram sorrir e me fizeram chorar, daqueles que me ajudaram quando precisei. Agradecer aos amigos novos, aos amigos de trabalho, que gostam de mim como sou, que me viram crescer dois anos da minha vida e agora me veem partir, com os olhos postos na minha estrada e no meu futuro. Que bom vai ser avançar, que mau vai ser perder tudo isto. É impossível não chorar. Cresci tanto, aprendi tanto, agradeço tanto esta oportunidade.




Obrigada.

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