sexta-feira, março 18, 2011

Memórias e esquecimento

Parece que agora é que estou a levar com a realidade na cara. Hoje ia no autocarro e comecei a pensar em memórias, mais propriamente na memória por assim dizer. Todos os dias apanho o autocarro à mesma hora. Apesar de não conhecer as pessoas pessoalmente, sei quem são, porque me lembro delas. O seu registo ficou guardado na minha mente, ainda que incompleto por não saber ao certo a identidade de fulano/a x ou y. Acho interessante a memória e os eventos que nela ficam gravados.. E acho interessante que fiquem gravados (por vezes) tempos indeterminados. Mas o que acho mais interessante é o esquecimento. Isso sim é que para mim é o trunfo dos trunfos. Como é que acontece, como é que simplesmente deixas de te lembrar? Como é que o que está para trás deixou de estar gravado em ti e no que és, se foi o caminho que percorreste e a forma como te desenhaste para seres quem és hoje? Como é que esqueces as raízes, quando é que deixas de olhar para elas e começas a olhar para a tua copa ou para o céu? Como é que simplesmente deixa de fazer sentido a expressão, o sentimento ou a raiva que outrora sentiste por algo ou alguém? Tentar apagar ainda me confunde mais, até porque eu sempre tentei que nada se apagasse na minha história. E ela bem que tem falhas e merecia alguns apagões, mas eu não me esqueço. De quase nada o que é relevante. Não me esqueço de como era gozada na escola, de como faziam pouco dos meus problemas em casa e dos comportamentos que tinha. Não me esqueço de como estava sozinha quando entrei para a Anselmo e como ganhei amigas que acreditei que não me iam abandonar. Não me esqueço de ter cortado os pulsos e de ter de ir a uma psiquiatra. Não me esqueço da tua ajuda nesses momentos. Não me esqueço de como lutei para passar a todas as cadeiras na faculdade e como aguentei todos os trabalhos de grupo. Não me esqueço de todos os tipos que decidiram tentar entrar para o meu caminho mas nunca souberam o que era percorrê-lo até ao fim. Nunca me esquecerei do Pedro, o que me ajudou a crescer e o que me ensinou a jamais procurar ou querer ser. Não me esquecerei dos amigos que ficaram para trás e não me vou esquecer de como o Mário não me deu uma oportunidade por capricho. Mas acho que, acima de tudo, não me vou esquecer de ti. Do que me deixaste e do que me fizeste perder. Não me vou esquecer de como uma vez me prometeste levar-me à lua, de como me tratavas por princesa, estrela e amor. De como tinhas paciência e tudo o que fazia te trazia um sorriso, tudo o que dizia te fazia sorrir. De como acordavas com as minhas mensagens e me chamavas de amor, de como dormias ao meu lado e me aquecias toda a noite. Não vou deixar que caia no esquecimento a conchinha e a pulseira, os beijos e os segredos.. A igreja helvética. Não me vou esquecer de como, até já no fim, me deste um papelinho rosa que guardarei sempre na carteira para demonstrar que nunca esquecerei o que sinto por ti. Há coisas que se deve tentar lembrar para sempre e, por mais que a memória nos pregue partidas, devemos guardar sempre junto ao peito porque um dia, já nos prometeram viagens à lua e amor profundamente verdadeiro. E no fundo, é isso que importa.

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