sexta-feira, maio 07, 2010

Diários de uma Recepcionista

"Young and Rubicam Bom dia"

É assim que começo o meu dia ao lado do telefone, que não cessa em tocar, tocar e tocar. Há muito para fazer, muitas almas dependentes de trabalho que aqui se faz, que não desistem enquanto não descobrem uma forma de entrar em contacto com essas mesmas pessoas, esses trabalhadores que tantas vezes os descartam. Ainda assim não consigo deixar passar algumas coisas ao lado, coisas que não compreendo (sinceramente não creio ter sido feita para compreender), ligadas a este mundo de adultos. Uma dessas minhas incertezas e conhecimentos adultos é esta questão dos doutores, dos senhores e dos dons e donas do nosso país. Se trato todos por doutores, uns mais modestos não querem ser apelidados de tal forma, outros não suportam estar num "estatuto mental inferior". Os dons e as donas ficam ofendidos quando não são tratados respeitosamente, mas muitas vezes chamo Don e Dona a pessoas que, tal como eu, de donas não temos nada, e trabalhamos com o ordenado mínimo na mão para empresas que (essas sim!) são nossas donas. Por outro lado, os senhores dizem-me ser uma forma vulgar de tratar alguem, Senhor João, senhor Luís, Senhor Pedro... Não entendo bem porquê, mas deve ser por quando pedimos para ir a casa de banho estar lá estampado na porta a palavra "Senhores" e "Senhoras" (além do típicamente português bonequinho a fazer chichi para o penico). Sinceramente eu dispenso que me tratem por qualquer um desses nomes, por achar que nenhum se aplica à minha realidade. Provavelmente acredito mais em tratar pelo nome próprio e tratar por vós ("Cristina, quer que eu lhe traga alguma coisa do economato?" ou "Luis, importa-se que lhe passe esta chamada") porque considero formal e educado.. e ao menos não nos metemos no meio desta palhaçada de Dons, Doutores e Senhores que sinceramente, mais me parece uma religião por descobrir do que propriamente uma ciência exacta.

Mas provavelmente é como a minha mãe diz: "Isto é um país de doutores e de engenheiros"... mas na verdade ninguém é nem doutor nem engenheiro. Não são donos de nada e nem são senhores das suas acções ou modéstias. No fundo, é só conversa fiada, como eu disse...

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