domingo, abril 04, 2010

A merda da Páscoa

Sinceramente, a Páscoa foi exactamente o que se esperava. Uma merda. Podia descrever por exaustão o dia no entanto isso não faria sentido. Vou apenas tentar escrever qualquer coisa ao som de Coldplay. A Páscoa tal como grande parte dos feriados Nacionais e internacionais demonstra ser apenas mais um dia de promessas não cumpridas e momentos vazios de encontros em família, esta que nem provavelmente se liga para um simples cumprimento durante todo o ano. Sinceramente, o que me chateia mais na Páscoa é o facto de, pela falta de materialismo e relação com este feriado nacional, acaba por se diferir bastante do Natal, porque ao menos nesse dia as pessoas tentam redimir-se e agir correctamente (mesmo que apenas uma vez em todo o ano). Na Páscoa, as pessoas não tentam nada disso, não tiram a máscara da cara, a máscara de coelho branco e são exactamente aquilo que foram todo o ano.. A grande e real merda.

A minha Páscoa foi algo ligado a substituições. Inicialmente passávamos todos em minha casa, num grande almoço de cabrito e entradas caras. Agora as pessoas já não têm interesse a ir lá, já não há interesse o amor, na união ou apenas na visita. Ganharam-se novas vidas, criaram-se novas tradições e nem um telefonema foi feito, para relembrar os belos tempos de recepção naquelas 4 paredes, frias mas outrora quentes. Substituiu-se tudo o que se pôde: a minha avó foi substituida por uma estranha, a família longa por uma pessoa desesperada por atenção e companhia. As conversas de Páscoa ficaram perdidas em sonos de tarde, filmes de domingo e discussões anteriores. Não há tom que salve esta Páscoa, de substituições. Não há tom que consiga sobrepor-se a tudo o que aconteceu hoje, a todos os pensamentos que me passaram pela mente, a tudo o que se passou exterior ao corpo e à percepção.

Tento atingir-te, tento alcançar-te e não consigo mesmo. Quando acho que chego mais perto, sinto que não te consigo agarrar, a camisola foge-me e tu dás mais dois passos em frente. Fechas-te e não me deixas puxar-te para mim, para te afagar o cabelo, para te afagar o peito. Ficas assim tão longe como o horizonte na praia que tanto gostas, acabo por nem conseguir chegar a meio do mar e esticar a mão para apanhar essa linha ténue entre a sanidade e a insanidade do que sentes por mim. E com tudo a acontecer à tua volta, como podes deixar que te agarrem? Como podes acreditar que é algo para sempre quando tudo à tua volta acaba? Quando tudo te é roubado e quando todos partem sem razão que entendas? É complicado agarra-te porque cada vez mais a tua alma anseia pelo céu, que eu não te quero dar, pois esse céu é o que te vai tirar de mim. Não tenho histórias como as tuas para te contar, não tenho como te agarrar e cada vez mais o espaço entre nós me deixa a tremer por todos os lados. Por mim dava-te a mão e apagava da tua mente tudo o que te fez tão ligado ao céu, tudo o que te puxa para cima, para que a tua alma seja sugada para o meio das nuvens no meio do azul cintilante da noite, onde há outras estrelas e uma grande lua.

Acontecem coisas que eu nem sei como explicar. Nem sei dizer a razão para isto acontecer, para ser levado para fundo do mar alguém tão jovem, tão espirituoso e tão importante para aqueles que amamos. Acabo por ficar sem palavras (proeza que raramente possuo) e nunca sei o que dizer. Nunca sei o que pensar nem como reagir a estes roubos, estes assaltos a almas que vagueiam presas aos corpos que tão bem conhecemos. Como hei-de reagir, como hei-de falar, onde devo tentar tocar, de forma a alcançar a dor dos que tanto amam o ser roubado, o ser que deixou este espaço, que deixou de existir. Porque fisicamente, estes seres deixam de o ser, deixam de estar, acabam, terminam e deixam de consumir o ar que tanto sentimos nos pulmões. É-me sempre tão estranho quando alguém é roubado da alma, quando alguém foge sem se despedir, quando simplesmente ficamos a falar para algo vazio de interior. Fico sempre a pensar que, realmente sem alma, somos apenas bonecos comandados, somos apenas seres inexistentes, sem alma, sem nada. Somos apenas... Nada. E a nada regressamos.




Estes são os meus sentimentos de Páscoa. Não há escola que mos tire, amigos que me vejam e namorado que me entenda. Sinceramente, passam-se demasiadas coisas para eu ser o centro das atenções. Mas a verdade é que sou sempre o meu próprio centro de atenções.. Por muito que não o queira. Respiro fundo e caminho para mais um dia, mais uma semana, mais um mês e mais um ano de vida. The show must go on.



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