quinta-feira, março 11, 2010

Noite citadina


Não há nada que eu mais goste que a rua de noite. O falso silêncio da cidade é algo que sempre evocou em mim um gosto escondido e uma liberdade eterna. À noite, quando todos dormem nas suas camas e alguém caminha, naquelas ruas silenciosamente esbeltas e friamente solitárias é um prazer enorme, um momento único que todas as noites me acompanha. A segurança da insegurança, ninguém fala e ninguém me segue. As únicas vozes são dos taxistas que esperam um cliente que, como eu, vagueie na direcção da sua viatura. Há um leve murmúrio, um zumbido que nunca nos deixa esquecer que estamos na cidade e não no campo, um zumbido pressistente e atento, que não dorme nem tem descanso. As luzes não se apagam e os olhos da cidade não descansam. O coração da cidade escura e solitária continua a bater, enquanto as almas penadas que, como eu, caminham a estas horas, onde não há ninguém, não há vozes nem conversas, se consideram sortudas de poder sentir momentos destes na rua da noite. É uma sorte sentir este amor à lua, estrelas e humidade nocturna. É um luxo conhecer esta paz que assombra a movimentada cidade, umas horas depois de cairmos na almofada. É realmente um luxo e um prazer.

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